Hoje fiquei por casa e tive oportunidade de assistir ao debate do Orçamento para 2008. Não há muito a assinalar: Sócrates finge que tem tido brilhantes resultados neste capítulo, não pára de falar do passado que herdou como se a situação presente fosse mais amigável para o cidadão, mostra-se arrogante (sem obra que explique a arrogância), altivo e quase mal-educado; Santana não foi tão contundente e eficaz como se esperaria; Paulo Portas esteve bem; da esquerda radical nada de novo.
Um pormenor, no entanto, foi assinalável. Ouvi, juro que ouvi, o PM dizer (respondendo a Portas sobre o aumento da carga fiscal) que em 2008 o PIB ia crescer 5% (CINCO!!!) nominalmente.
Não percebo porquê, não anda ninguém a festejar tão assinalável previsão. Deve ter sido por esta queda para os números que apenas se licenciou vagamente em Engenharia Civil.
Deputados desabafam por mail
PSD desiludido com Santana
“Desastre Total!”. A mensagem circulou, sob a forma de mail, entre deputados do PSD e jornalistas. O primeiro duelo Santana/Sócrates deprimiu os sociais-democratas.
Ângela Silva
18:40 | Terça-feira, 6 de Nov de 2007
Ana Baião
Santana não conseguiu disfarçar a sua inexperiência das técnicas de intervenção no Parlamento
Mal Santana Lopes terminou o seu anunciado duelo com José Sócrates, começou a troca de mails entre deputados do PSD, alguns deles extensíveis a jornalistas, dando conta da frustração com que assistiram ao primeiro embate público entre o actual e o ex-primeiro-ministro, agora regressado às lides no papel de líder parlamentar do PSD.
“Desastre total!”, lia-se na mensagem posta a circular entre deputados do PSD e jornalistas, e os comentários espalhados pelos corredores não eram muito diferentes. Apoiantes e críticos de Santana não disfarçavam o desencanto pela forma como correra esta sua primeira intervenção. O ex-primeiro-ministro era acusado de não ter sabido gerir o tempo, não ter dominado a técnica parlamentar, e ter-se deixado arrastar por José Sócrates para um revisitar do passado, sem ter, sequer, sabido defender-se à altura dos ferozes ataques do primeiro-ministro.
Os setenta por cento de votos com que foi eleito líder da bancada há apenas 15 dias justificarão a indisponibilidade da maioria dos deputados para assumirem as críticas que proliferaram em surdina pelos bastidores do debate, mas o clima na bancada foi de notório desânimo.
Santana não conseguiu disfarçar a sua inexperiência das técnicas de intervenção no Parlamento e quando se começou a debruçar no tema do debate – as questões orçamentais – preparando-se para questionar duramente o primeiro-ministro sobre os graves problemas fiscais que penalizam a classe média, já Jaime Gama lhe pedia que acabasse. O seu tempo tinha chegado ao fim.
Para trás ficava uma frouxa intervenção do ex-primeiro-ministro que, depois de dizer não querer falar do passado, acabou por quase só falar dele. Com evidente nervosismo e sem conseguir tirar partido da comparação que ainda tentou fazer entre os números do crescimento económico registado á sua época e os números do crescimento actual. Sócrates foi “killer” no pano de fundo que definiu para a discussão: “o seu regresso faz rever um passado triste a que os portugueses não querem voltar”. E Santana revelou-se mal preparado para uma tarefa que se sabia à partida ser de um grau de dificuldade similar ao da ressurreição.
Paulo Portas não desperdiçou a oportunidade: “prometeram-nos um duelo, afinal tivemos o Canal Memória”. E uma má memória … pelo que se viu pelos corredores do PSD.
Um dia de ‘Canal História’ no Parlamento
SUSETE FRANCISCO
O debate sobre o Orçamento de Estado para 2008 Ou melhor: o debate que devia ser sobre o Orçamento de Estado para 2008 demorou ontem algum tempo a chegar lá. Quem ouvisse a discussão na Assembleia da República sem ter lido as notícias dos últimos dias ficaria confuso. 2002? 2004? 2001?
O anunciado duelo não demorou mais que dois minutos. Ao virar da primeira página do discurso que ontem iniciou o debate parlamentar, o primeiro-ministro abriu as “hostilidades” contra o seu antecessor no governo, Pedro Santana Lopes. Começou por criticar a “insensatez das receitas extraordinárias” de um “passado a que o País não quer regressar”. Estava dado o sinal, o PS aplaudiu. E a seguir subiu o tom dos aplausos, com Sócrates a carregar nas críticas: “Que ironia amarga, senhoras e senhores deputados, ver agora a direita ser liderada pelos mesmíssimos responsáveis por aquele que foi um dos maiores fracassos governamentais da democracia portuguesa”.
Mesmo em frente ao primeiro-ministro, Santana Lopes mantinha-se impassível – passou boa parte do tempo do discurso do primeiro-ministro (mais de meia hora) a olhar para as restantes bancadas, para as galerias, até para a cúpula da sala da Assembleia. Da bancada do PSD não se ouviu um comentário às acusações.
Passada a palavra à oposição, o ex-primeiro-ministro e actual líder parlamentar do PSD fez menção de não entrar no jogo: “Não vou responder às questões que pôs sobre o passado, isso interessa a quem queira estudar a História.” Mas já agora, um pouco de História nunca fez mal a ninguém… E eis Santana Lopes a reportar-se a Fevereiro de 2005, para citar palavras de Sócrates: “Uma agenda de governação que passa por restaurar o sentido de Estado, passa por ter um governo que não passe a vida a dizer mal do governo anterior. ”
Como não queria falar de História, Santana também disse que não ia falar dos compromissos que o primeiro-ministro assumiu na campanha eleitoral – “os 150 mil postos de trabalho, a não subida dos impostos, a não subida da idade da reforma”. E ainda adiantou ter ouvido os debates que em tempos ambos travaram na RTP, pelo que teria muito a dizer sobre o que em tempos afirmou o agora primeiro-ministro. Mas Santana já não disse muito mais, que o tempo de intervenção estava a acabar.
Na resposta, Sócrates foi subindo o tom de desafio: “O senhor deputado diz que não quer falar do passado. Como eu o compreendo. Verdadeiramente o senhor é o passado”. Pedindo a defesa da consideração da bancada, foi um Santana Lopes já visivelmente irritado, a elevar a voz, que recuou ainda mais no tempo para acusar Sócrates de ser o ministro “símbolo” do “governo da fuga do pântano, do governo que fugiu” [o Executivo de Guterres].
O duelo estava encerrado… ou talvez não. Santana não voltou a usar da palavra, mas o primeiro-ministro ainda falaria muitas vezes, com repetidas referências ao governo anterior. Variando o alvo dos ataques. “O que faz evocar a memória, a má memória, é o seu regresso à liderança do CDS”, respondeu a Paulo Portas, quando este classificou o “duelo” como “uma sessão do canal Memória”.
Santana referiu, no final, que o debate não “correu como queria”, pedindo “tolerância” para quem ainda se está a “adaptar” no “regresso a estas lides”. Mas, entre alguns sociais-democratas a tolerância não era ontem muita, com a intervenção do líder parlamentar “laranja” classificada como “muito fraca”. |