As pessoas (no trabalho)

Profissionalmente acho que as pessoas se dividem entre pessoas que arranjam problemas e pessoas que resolvem problemas. Não são as qualificações académicas ou outras (claro que admitindo as qualificações e conhecimentos mínimos para desempenhar a função para que se é seleccionado), o QI, o grau de sofisticação ou o saber-estar. Há quem olhe para uma situação e veja nela um problema insolúvel, ou só solúvel por “outros” da empresa, uma realidade incapacitante para a normal execução das tarefas a desempenhar e a desculpa para qualquer atraso, incorrecção, incompetência. Em qualquer situação: um equipamento informático (que se precisa de usar com pouca frequência que, de súbito, é essencial para toda e qualquer tarefa quotidiana) que não funciona e a assistência técnica, percebendo a falta de urgência, tarda; um fornecedor que não dá uma resposta sobre alguma questão que encadeia outras tarefas (e pressionar o fornecedor para responder é, obviamente, tarefa de outros); uma entrega de alguma coisa atrasada; o ar condicionado que avaria logo no pico do calor ou do frio; não foi autorizada a verba total que se pretendia para alguma sua ideia; qualquer assunto imaginariamente importante ou um problema que realmente convoque imaginação e disponibilidade para ser atendido e que complique em excesso a actividade de uma empresa.

Por oposição, há pessoas que perante qualquer imprevisto, por mais aguçado que pareça, olham para ele e vêem a solução. Pode não ser a solução perfeita, pode ser um remendo até alguém mais douto a resolver, pode condicionar o desempenho de alguma tarefa, mas o problema é resolvido e a empresa continua a funcionar com um mínimo de normalidade.

Depois há um subgrupo no primeiro tipo de pessoas, que é aquele que, além de não conseguir produzir soluções, é um verdadeiro foco de problemas. Têm o dom de encrencarem qualquer actividade e tarefa em que se envolvam. Todos os equipamentos, miraculosamente (mas ao contrário), avariam, o pessoal da equipa que se chefia faz tudo menos o que deve (porque será?) e os superiores hierárquicos (nunca a chefia directa) devem colocá-los na ordem, todo e qualquer objectivo que se proponham atingir é conseguido, mas em simetria, tal o rol de problemas que causou, alguns só possíveis por alguém com imaginação hiper-activa para o sarilho. Escusado será dizer que são incapazes de solucionar qualquer problema que originem: isso fica para os outros. Estas pessoas são verdadeiramente tóxicas para qualquer empresa.

Esta dualidade sempre me impressionou. Também me tem impressionado, ao longo destes anos, a quantidade de pessoas que não consegue encarar e solucionar ou tornear um problema qualquer problema no seu trabalho. Não faço ideia a que se deve esta característica – porque, na verdade, não tem a ver com habilitações literárias nem com condições socio-económicas – mas é, não tenho dúvidas, um grande problema nacional – porque estas pessoas só são capazes de produzir em situações idealizadas, perfeitas, previsíveis, que – como é óbvio – não existem.

Claro que estas pessoas que só descobrem problemas em qualquer desvio da utopia perdem a cabeça quando perante um problema real, por vezes sério. Que, apesar de custosos, às vezes até têm algum resultado positivo: vêm acompanhados da carta de despedimento de alguém que considera que não lhe foram dadas todas as condições para fazer o seu trabalho (mesmo que tenha sido essa pessoa a criadora do problema, os outros falharam ao pedir-lhe a resolução). O que, dada a nossa estúpida legislação laboral, é uma benesse.

(Nem é preciso dizer que estou no rescaldo de uma situação dessas, de uma pessoa a quem, perante o problema originado, foi dito “resolva-o” e não suportou tal ingomínia. Este post claro que não se dirige a essa pessoa, que nem sabe sequer que eu escrevo em blogues; é mesmo uma cogitação sobre a proverbial falta de produtividade portuguesa).

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