Em tempos idos uma das minhas funções na empresa onde exercia os meus parcos dotes passava pelo planeamento e controlo da produção no que respeitava à maquinação das peças vazadas (ou de outra maneira, fundidas com “n”). A actividade era 5% engenharia e os restantes 95% pombo-correio e gestão de stress dos responsáveis das unidades envolvidas. Como a culpa era sempre dos outros, eu que estava no meio sofria os embates dos egos que por lá pululavam. Uma empresa tipicamente portuguesa.
O director da unidade metalomecânica, homem sábio com idade para ser meu pai e com um feitio especial, e que tinha começado a sua carreira como operário e depois fez-se à sua custa, mesmo assim só conseguia suportar uma pessoa naquela estrutura: eu. Fugia a sete-pés das minhas chefias directas, lá está, porque tinha um feitio especial e não os conseguia aturar. E criámos uma relação que ultrapassou a esfera profissional, podendo considerar-se que ficámos amigos.
Num daqueles dias em que estávamos reunidos para discutir as loucuras do tipo fazer num dia o trabalho de três com peças que ainda não tinham sido enviadas para maquinagem mas que vá lá engenheiro não podemos falhar o prazo com os clientes mas então as peças quando chegam pois não sei bem mas amanhã têm de ficar prontas, parou, olhou para mim e disse, no alto da sua experiência: André, esta merda vai de vitória em vitória até à derrota final. Um ano depois da sua saída a empresa entrou em insolvência.
Lembrei-me disto depois de ler este post do Ricardo Arroja.