A senhora do Mercedes e da Louis Vuitton

Uma senhora menos jovem (já vão perceber o porquê deste considerando etário) combina com as amigas um encontro nas Docas. Não há um lugar  de estacionamento num raio de 50 m da entrada, pelo que a distinta só encontra um lugarzinho ao pé do Calvário, colmatando a chatice de fazer um caminho a pé maior do que esperava a conveniência de deixar o Classe E Coupé ao pé da 28ª esquadra da PSP.

Distinta, referi. Segue muito ligeira com a sua mala sépia Speedy 30 Bandoulière, recheada como é bom de ver porque a mala não foi comprada em Carcavelos. Segue ligeira e aos saltinhos, porque saiu de Cascais com uma vontade irreprimível de urinar, e já está em aperto de bexiga há mais de meia-hora, o que numa senhora da sua idade já dá direito a umas pinguinhas nas suas panties.

Depois de atravessar as Avenidas da Índia e de Brasília está quase a rebentar! Gotas de suor perlam a sua testa devido à retenção que já lhe consumiu umas valentes calorias, e agora só pensa em agachar-se entre dois carros quaisquer  no estacionamento no fim do viaduto (à frente da Gare Marítima de Alcântara) e abrir as comportas. Mas ó diabo, o chão está molhado devido à chuva e já não tem idade (percebem agora o considerando das primeira linha?) para fazer a flexão sem se agarrar aos manípulos dos carros posicionados lateralmente, pelo que terá de colocar a mala em cima do tejadilho de uma das viaturas se não a quiser estragar – admitamos que a mala não é impermeável.

Para mal dos seus pecados, o lugar está pejado dos mui nobres e dignos apontadores de lugares disponíveis de estacionamento, vulgo arrumadores, que já estão a mirá-la há algum tempo – afinal anda uma senhora às voltinhas a morder os lábios neste labirinto a que propósito? A probabilidade é altíssima de um dos apontadores mencionados lhe pedir emprestada a Louis Vuitton assim que a poisar e se agachar.

Três alternativas tem a senhora então:

1. Agacha-se com a mala no chão e estraga-a (720,00 € de pele);

2. Agacha-se e coloca a mala num tejadilho, sendo quase certo o seu desaparecimento (720,00 € de pele mais o dinheiro e os cartões platina);

3. Continua o esforço físico por mais uns passos até chegar à casa de banho do estabelecimento mais próximo, sujeitando-se a que o molhado da cuequinha se reflicta na calça.

Acredito piamente que 99% dos leitores são da opinião que a melhor solução é a terceira, e convenhamos que dada a situação apresentada mais vale uma mancha no rabo que muitos euros a voar.

Então a que propósito é que o PSD e Passos Coelho devem aprovar por antecipação o OE 2011 do PS?

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2 respostas a A senhora do Mercedes e da Louis Vuitton

  1. Maria João Marques diz:

    Não concordando com o ponto do post, há que dizer, André, que está muito bem esgalhado! Eh, eh, eh…

  2. agfernandes diz:

    André, fica uma pessoa a tentar resolver o dilema da senhora não muito jovem e acaba envolvida no dilema do PSD e de Passos Coelho? Que maldade!
    Ana

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