Foi com esta expressão que Paulo Rangel se referiu ao mal-estar dos cidadãos europeus, colocando-se na posição diplomática de procurar explicar que não há vantagens em aumentar a distância representantes políticos-cidadãos. Foi isso que percebi. Mas o que se observa é precisamente uma união europeia que se protegeu na burocracia e começou a ser ultrapassada por protagonistas dos grandes países. Mas registei esta opinião de Paulo Rangel que mantém o olho vivo e a capacidade rara de verbalizar uma ideia de forma clara e animada: é precisamente para evitar desvios à tal democracia perspectivada no início, que se afirma “federalista”, defendendo que é a melhor forma de o conseguir, à semelhança dos EUA e do Canadá.
O meu cepticismo manteve-se quase intacto, apesar de não ser indiferente à forma muito inteligente e perspicaz de Paulo Rangel interpretar as questões preocupantes actuais a nível europeu. Percebe-se que observa atentamente, que analisa objectivamente, que propõe estratégias baseadas nessa observação e análise. Uma perspectiva muito interessante é a da necessidade de uma “diplomacia de geografia variável”: países na união poderem associar-se à volta de objectivos comuns que podem variar conforme os interesses estratégicos, como países de média dimensão, países a atravessar situações semelhantes, etc., em vez de cada um tentar negociar isoladamente. A meu ver, é a cultura corporativa vigente que impede esta flexibilidade. Numa época em que a economia é global, a informação é global, esta cultura é o maior obstáculo a essas soluções possíveis, em que “todos ganham”.
Registei, no entanto, estas questões fundamentais para possível análise: será que a opinião pública europeia foi mesmo “envenenada”? Será que é possível aproximar representantes políticos e cidadãos?