Evidentemente que os gregos devem poder decidir o seu próprio destino e, no caso, decidir se a austeridade será feita de uma forma apesar de tudo mais suave ao longo de muitos anos (e aceitam as imposições da UE) ou se preferem uma quebra abrupta seguida de um período de crescimento que proporcionará, também durante muitos anos, um nível de vida muito abaixo do actual e até do que trará a austeridade patrocinada pela UE (saem do Euro, portanto). Os gregos decidem o que querem sobre o seu destino; se assim o entenderem, podem até tentar abolir de todo a moeda e basear a sua economia na troca directa. E eu até entendo que os gregos se queiram livrar de um primeiro-ministro como Papandreus, sentimento que eu, de resto, partilhava há bem poucos meses quando tínhamos também um incendiário a liderar o nosso governo (lembram-se da quantidade de vezes que Sócrates ameaçou demitir-se?).
No entanto, tal como de um indivíduo que deliberadamente falha a sua parte num contrato onde livremente entrou não se pode dizer que esteja a exercer a sua liberdade, mas sim que tem falta de carácter e de respeito pela palavra dada, também de um país (ou de um pm) que numa semana assina livremente um acordo com os seus aliados (políticos, económicos,…) e na semana seguinte anuncia que afinal não sabe se o acordo é para cumprir, que logo se vê como calha o referendo, não se pode dizer que seja um exercício de soberania, antes sim um ‘acto de deslealdade’, um acto de má-fé, um acto de um jogador desesperado e sem escrúpulos que não teme ameaçar fazer colapsar os restantes membros da UE – sobre os quais os gregos já não têm nada que decidir – para evitar perecer politicamente (às mãos dos militares, da oposição, do PASOK, tanto se me dá). Sendo que, provavelmente e porque o jogo não vingou e a UE marcou bem que não seria refém da chantagem grega, de facto perecerá.
A falta de vergonha de Papandreus (acompanhado por uma percentagem indefinida de ministros) deveria dar uma lição àqueles que durante meses clamaram pela culpa dos mercados e dos especuladores nestas crises das dívidas soberanas. Talvez (mas duvido) consigam perceber que as dívidas públicas pagam (ou prometem pagar) juros insustentáveis porque o pagamento dos juros e dos títulos da dívida está nas mãos de gente irresponsável e leviana e pouco confiável como Papandreus.
Uma nota final. Por cá, tal como na Grécia, há quem tudo faça para gerar contestação nas ruas e lançar a confusão política: PCP, BE e franjas do PS. Convém não esquecermos que, fora países conquistados, o comunismo impôs-se apenas em épocas de caos. E se pensam que as ambições de poder (totalitário) do PCP e do BE são idiossincrasias destes partidos que não há necessidade de levar a sério, aconselham-se umas leituras ao Avante e ao site do BE para se avaliar o grau de alienação que ainda persiste por aqueles lados. Assim, eu não sou propensa a dar conselhos, mas estamos no fio da navalha e recomendo a quem seja mais moderado que não se entusiasme com o fim do euro, pelo menos agora, mesmo que venha guerra e pestilência, só porque o euro foi, de facto, uma construção anti-democrática de iluminados que se deveriam ter dedicado, para bem dos europeus, a cultivar abóboras (e para consumo restrito das suas famílias).