Imodium para Mário Lino

Olá a todos.

Começo hoje uma nova fase da minha vida onde, tal como aqueles que buscam incessantemente aparecer em qualquer evento onde um paparazzo distraído possa tirar uma fotografia aproveitável para uma coluna social de revista cor de rosa, alcanço os meus 15 minutos de fama.

Não sendo fotogénico nem bem parecido, a vida de revista cor de rosa está posta fora de questão, pelo que me resta o refúgio nas ideias às vezes pouco consensuais (como certamente se lembrarão os participantes na última discussão sobre o rumo político deste cantinho à beira mar plantado).

Pouco consensuais como são as declarações de Mário Lino, o nosso ministro que julgava que para ir ao Sahara bastava atravessar a ponte Vasco da Gama e grande impulsionador do léxico gramatical português ao inventar a expressão “jamé”, que apesar de poder ser entendida por alguns mais desatentos como uma tentativa (traída pela pronuncia) de usar o estrangeirismo francês jamais, significa o seu oposto embora diferido num (in)determinado período de tempo.

Para se perceber isto, nada mais ilustrativo do que um exemplo: imagine-se Mário Lino em casa numa invernosa noite de 2ª Feira, já sentado no sofá, quentinho de pantufas e robe a ouvir atentamente o amigo António Vitorino (poderia ter dito Professor Marcelo mas a história teria que acontecer ao Domingo e, mais grave que isso, poderia ser entendida como contestação aos seus ideais Socialistas). Imagine-se agora seu filho menor, interrompendo a atenção dada ao aparelho televisivo com a pergunta “Pai, apesar de amanhã ter exame de matemática logo de manhã, posso ir hoje ao Lux com os meus amigos até ao nascer do sol?” (eu também gostava de ter usado o Kubo na história, que está mais na moda, mas está fechado no Inverno). Ora perante tal questão Mário Lino poderia responder uma de duas coisas: “Nem pensar!”, que certamente tiraria ao petiz qualquer vislumbre que não fosse voltar para o quarto e enfiar a cabeça nos livros, ou um agradável e melódico “Jamé! Lux jamé!, que neste caso quer dizer “agora assim de repente acho que não, mas faz pouco barulho quando chegares a casa amanhã de manhã, tenta não beber muito e o dinheiro para o táxi está na minha carteira no bolso de dentro do casaco”.

Foi esta personagem caricata, tão animadora do nosso panorama político, que ainda esta semana afirmou convictamente que Manuela Ferreira Leite desconhecia ou estava mal informada sobre os dossiers de investimento público e respectiva forma de financiamento (em resposta à entrevista desta a Constança Cunha e Sá, na TVI, que a que poderei voltar mais tarde, dado agora ter neste espaço uma janela aberta ao mundo). Confesso não ter ficado nada surpreso ao ler sobre o tema, demonstrativo da fraca riqueza da agenda de contactos de Ferreira Leite quando comparada com a de Mário Lino, para quem a resposta óbvia: o seu amigo contribuinte. Se ainda não ouviu falar dele, o contribuinte é um tipo porreiro que só a malta do PS conhece pessoalmente (o resto do mundo apenas ouve falar dele na altura de pagar as contas) e que paga tudo, independentemente do preço, e também não reclama se este aumentar para o dobro sem justificação aparente. É por esta razão que qualquer dirigente socialista não tem que se preocupar com quanto isto do investimento vai custar, com estudos de viabilidade financeira, métodos de pagamento, rentabilidade, diferimento da dívida e outras maçadas que aborrecem alguém absolutamente tecnocrata (expressão pejorativa usada no Largo do Rato para descrever toda e qualquer pessoa com conhecimentos de finanças).

Se as coisas começarem algures no tempo a correr mal em termos de orçamento, basta um apelo sentido ao amigo contribuinte e ele passa logo o cheque. Esta evidente a razão justifica toda e qualquer ira parte dos dirigentes socialistas, sendo também este o motivo pelo qual não deveremos votar outra coisa senão PS em todas as eleições: afinal, qual de nós não quer ter no contribuinte um amigo?

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4 respostas a Imodium para Mário Lino

  1. Carmex diz:

    Zé, um excelente post de entrada! Witty and sharp as usual!

  2. Carmex diz:

    Panax, apesar de agora andares por outras paragens, constinuas sem perceber o que se escreve em português aqui nesta casa de excelência! Do que li do post, era uma rábula ao facto de um senhor que se desdisse totalmente quanto às opções do novo aeroporto de Lisboa criticar MFL por desconhecer o dossier; mas enfim, tu leste uma análise muito científica sobre os custos-benefícios dos investimentos públicos e resolveste, mais uma vez, colocar pensamentos que te surgem nas palavras dos outros. São opções.

    Quanto à virtuosidade dos gastos públicos, imagina-me a dizer que sim com a cabeça com ar muito contrito, todos os gastos públicos são geradores de riqueza, todos os serviços públicos prestados em Portugal são excelentes e justificam totalmente os impostos que o Zé e eu pagamos (tu estás nas Filipinas e não sei onde pagas impostos), e, sobretudo, a necessidade do novo aeroporto é uma verdade científica e que só bloggers tontos – que nunca tu! – questionam.

  3. Imodiom diz:

    Caro panaxginseng,

    Começo por lhe agradecer o seu post e o congratular pelo esforço desenvolvido na negação daquilo a que eu tentava aludir. Contudo, dado que não percebeu, deixe-me esclarecer qual era o verdadeiro motivo da crítica para que depois não chute na atmosfera noutro blog qualquer espalhado por aí: o que se pretendeu criticar não foi tanto o facto do aeroporto, do TGV ou desta ou daquela obra terem um impacto absoluto positivo na economia (em termos de aumento de PIB) mas sim da passividade tão portuguesa perante a ausência de rigor política no controlo dos gastos e consequente aproveitamento por parte dos nossos líderes políticos, apimentada por uma certa dose de indignação quando aparece alguém a questionar as contas. Não lhe vou dizer se concordo ou não com qualquer um dos investimentos, o que lhe digo é que certamente não concordo com o facto de ninguém nos dizer como é que se pretende pagar.

    Mas apesar de lhe reconhecer o devido crédito pelo esforço na análise, o seu post noutro blog que me escusarei a comentar em outro sítio que não este, começa por afirmar uma evidência para depois acabar por concluir uma meia-verdade.

    A evidência é que os gastos públicos criam riqueza para o país (os meus conhecimentos básicos de macroeconomia ainda chegam à curva da procura). Se alguns de nós ainda por cima creditarem num modelo keynesiano então acreditam também que esse investimento terá um efeito multiplicador que levará a um benefício positivo muito superior ao seu custo. Não lhe vou dizer se acredito ou não na teroria de keynes porque isso também não é para aqui relevante. Aliás, facto que há quem acredite é a expressão que alguns de nós já devem ter ouvido algures dizer que o cimento é o principal motor da economia portuguesa, motivo que só por si justifica o lobby da construção e obras públicas (também não lhe vou dar a minha opinião para a questão do lobby, que também não é relevante para o caso). Infelizmente não encontrei o estudo na página do BCE, com muita pena minha, uma vez que o gráfico que disponibiliza refere-se apenas ao contributo total referente ao período entre 1960 e 2005 onde, se quisermos ser rigorosos, vários efeitos políticos, sociais e económicos se misturam e deveriam ser analisados em separado (deixo-lhe o trabalho de os identificar quando me responder, como estou certo que o fará).

    A meia verdade com que tenta concluir o seu raciocínio e demonstrar a alarvidade imbuída nas minhas palavras é o facto de Portugal, até aos anos 90, ter em falta infraestruturas básicas de produção e comunicações cuja obrigação é do Estado, tendo também aproveitado um momento económico muito particular que, também como certamente sabe, não é aquele que vivemos. Ou seja, para resumir: é evidente que o investimento público (principalmente nos anos 80 e 90) teve um efeito altamente positivo na qualidade de vida dos portugueses, e que se tivermos em conta que foi pago com recurso a um Quadro Comunitário de Apoio bastante favorável a Portugal e num momento de taxa de juro um pouco diferente do actual (com os consequentes impactos nos juros da dívida), ou seja (para ser ainda mais sucinto), que nos faltava tudo e que nos saiu relativamente barato, então ninguém no seu perfeito juízo pode afirmar outra coisa que não a sua conclusão. Parece-me assim que essa mesma conclusão é absolutamente inútil na colocação em causa da minha crítica (à falta de rigor e de transparência), mas como parto do pressuposto que não percebeu o texto (motivo pelo qual lho resumi no 1º parágrafo) não lhe posso levar a mal.

    Aliás, olhando agora para a posição da Grécia no gráfico (os únicos que conseguiam estar pior que nós nos anos 90), comparando com a sua posição no quadro da UE à data de hoje e com o desempenho de outros países para alguns de nós emigram, interrogo-me se o que você não percebeu foi o post ou o excerto do estudo para o qual se remete.

    Aguardo a sua resposta, que agora estou a caminho da praia.

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