Estamos de acordo

Talvez num último ato de rebeldia dita juvenil, agora que caminho para a ternura dos quarenta tenho algumas saudades desses idos tempos, tinha decidido não adoptar no meu uso corrente da escrita as regras impostas pelo Acordo Ortográfico (AO). Seria o meu derradeiro motim, a minha terminal carga heroica da brigada ligeira, o meu último grito do Ipiranga.

Na reunião de pais do 1º ciclo a professora do meu rapaz do meio informou que não só a adoção do AO estaria em pleno vigor na turma como solicitou que corrigíssemos os filhos quando escrevessem de acordo com a ortografia antiga. Como considero autoridades supremas, antes de mais Nosso Senhor, mas também o pai/mãe na sua casa, o bispo/padre na sua diocese/paróquia e o professor na sua classe, não faria sentido nenhum confirmar a correcção da escrita dos meus filhos não cumprindo eu o mesmo preceito.

Assim, e esperando não cometer muitos erros, passarei a escrever considerando as mudanças impostas pelo AO.

Meses e estações do ano em minúsculas, cai o acento nas palavras graves cuja sílaba acentuada contém o ditongo oi (jibóia > jiboia), eliminam-se as consoantes não pronunciadas, etc.

Deus nos valha.

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8 respostas a Estamos de acordo

  1. Ativo diz:

    Não vale a pena adiar o inadiável. Claro que o novo acordo não é perfeito, mas faz sentido.

    Bem-vindo.

    http://fusivelativo.blogspot.com/2011/02/ortografia.html

  2. Victor S Carvalho diz:

    Ora aqui está uma atitude esclarecedora, de um cidadão informado! Por algum motivo estamos na cauda Europa, falidos, e 21 (sic) lugares abaixo da Espanha no que toca a literacia. Mas ainda londe do Brasil, que está abaixo do Zimbabué em grau de alfabetização.
    Quanto ao «professor na sua classe », também concordo. Por isso mesmo, os professores foram incumbidos, há uns anos atrás, na Alemanha, de alertar para o uso de uma estrela por parte da população.
    Houve pais e professores que resistiram, mas não eram pessoas sensatas, como o André Correia parece ser. E também eles falavam na inevitabilidade.

    Entretanto, pais há que estão a emendar o que os «professores» ensinam aos filhos.

    • André A. Correia diz:

      Depreendo então que cidadãos como o Vítor irão corrigir o que os filhos aprendem na sala de aula, o que não haja dúvida deve ser um espectáculo… Já a referência à estrela de David é uma completa desgraça.

      • Victor S Carvalho diz:

        Os Cidadãos, sim. Como este: «Hoje tive a primeira reunião de turma da minha filha mais nova, e disse à professora… aquilo que ela já sabia: o que ela ensinar à Adriana pela «via acordista» eu, depois, corrijo. O que, aliás, já aconteceu hoje, primeiro dia de aulas: ela disse às crianças que agora os meses e as estações do ano se escrevem (primeira letra) em minúsculas… e eu instruí a minha garota quanto à forma correcta(…)»
        Octávio Santos, http://octanas.blogspot.com/

        P.S. É norma de elementar civilidade não modificar o nome das pessoas, grafia incluída. Aliás, os nomes são imodificáveis, como direito de personalidade que são.

  3. vsc diz:

    Claro que irão corrigir. Já corrigem. Além de ser muito discutível que o «acordo» esteja em vigor, se corrgir o que lhes «ensinam» depois até é mais fácil para as crianças, já que tomando, por exemplo, a palavra “actividade” é a grafia actual do Castelhano, e o «ct» mantêm-se, também, no Inglês («activity») ou no Francês («activité»). É que, nesses países a ortografia é a mesma há 250 anos.
    A estrela de David é um exemplo do que o que os professores ensinam nem sempre é bom. Há graus de gravidade? Há! Do nazismo, ao estado novo, passando pelos países comunistas, a diferença de intoxicação escolar variava. Em todos eles houve, porém, quem resistisse.
    Francamente, dizer a um filho que escreveu actividade com «ct», tal como se escreve na Europa e na América do Norte do séc. XXI, que é erro e que passe passar a escrever à moda do Brasil de há 90 anos atrás (num país que hoje ainda tem 75% de analfabetos entre o clássico e o funcional) não me parece um acto muito sensato de que um pai se deva orgulhar.
    Aliás, nem sei como é possível ensinar «acordês» se um dos seus mais acérrimos defensores escreve, entre outras cosias de extrema gravidade, isto:
    «Depois de aplicar o Acordo nos meus livros, concluí que precisa de algum aperfeiçoamento nas suas imperfeições: As alterações ortográficas realizadas, algumas com violência dos hábitos de escrita, afinal pequena simplificação fizeram, e, inversamente, trouxeram incoerências, deixaram incertezas, nalguns casos provocam ambiguidades. Por exemplo, resumindo o que já referi em artigos anteriores: trouxe as incoerências do tipo “estupefação/estupefacto”; implicou a confusão escrita em “corretor” nos seus significados de intermediário e quem corrige; obrigou-nos à ambiguidade de “para”, do verbo parar, sem o acento, pois se confunde com a preposição “para”. Além disso, um VC permitirá a eventual uniformização de termos como “comummente/comumente” “hífenes/hifens”, etc.; em resumo, o aperfeiçoamento do Acordo de 1990, pois este será discutido em pormenor nas comissões científicas que vão elaborar o VC.(http://www.ciberduvidas.com/controversias.php?rid=2377)
    Vai colaborar no ensino a seu Filho de incoerências, incertezas, ambiguidades e incorências?

    • André A. Correia diz:

      Victor, quanto à alteração da grafia do seu nome que inoportunamente inseri foi fruto do hábito e não de outra causa qualquer. Civismo tenho muito, como mostra o trabalho que me dou a responder a quem faz um primeiro comentário ordinário. Sim, ordinário, quando trouxe à colação a estrela de David (esqueceu-se do triângulo rosa)… Mas quem ainda usa a grafia Victor, a priori, já tinha idade para ter juízo. E pense pela sua cabeça, homem. Só dá exemplos do que outros fazem ou dizem.
      Já agora os outros países usam a mesma ortografia há 250 anos? Hum, experimente o Project Gutenberg e informe-se melhor. Mas mesmo que fosse o caso, era irrelevante. Leia (que eu tenho feito amiúde com muito gosto) por exemplo a Cidade e as Serras ou a Ilustre Casa de Ramires com a ortografia de 1900 (estão lá no Project Gutenberg). Porque não voltarmos a escrever como se escrevia nesse tempo? Aliás eu se fosse a si recuava aos tempos do D. Dinis!
      O AO não é perfeito? Concordo. Mas é o que temos.
      Passe bem.

      • Victor S Carvalho diz:

        Como saberá – ou devia saber – em Portugal houve uma «reforma ortográfica» em 1911, determinada por um governo constitucionalmente ditatorial. A essa «reforma» chamou Fernando Pessoa um crime e é por isso que as primeiras edições das obras de Eça têm ortografia diferente.
        Houve, depois, em 1945 um convénio com o Brasil, entre dois governos ditatoriais. O Inglês e o Francês nunca tiveram qualquer reforma, o que poderá verificar, querendo.
        Nenhum país do mundo alguma vez fez – nem de longe! – o que se quer fazer em Portugal.
        Não há necessidade de qualquer acordo imperfeito ou perfeito. Não temos de ter o menos, porque não precisamos de ter o mal: não precisamos de ter rigorosamente nenhum. Precisamos, sim, de ser menos analfabetos e de uam democracia.
        Quanto a aprender a ortografia do tempo de Eça, é o que todos aqueles que aprendem hoje inglês ou francês fazem. Nos USA ou na Grã-Bretanha ou em França há pharmacies.

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