Uma espécie de post natalício, mas ao contrário

Desculpem lá o contraciclo natalício, mas há pouco apanhei no twitter a história de um rapaz que nunca contactou o pai (porque o pai não quis) mas descobriu que a criatura tinha acabado de publicar um livro com título Criando Filhos Emocionalmente Saudáveis. Bom, passando ao lado da evidente hipocrisia do autor do livro (se calhar fazer parte da vida do filho e sustentá-lo e amá-lo é um começo para a saúde emocional), há outra parte que me interessa relevar, porque é uma das formas mais cobardes que individualmente e socialmente se usa para desculpar o mal que se faz: o silêncio e a ausência – que os hipócritas do mundo apresentam como neutros, ou simplesmente uma não ação inócua – são escolhas que se fazem em prol do mal do outro. O silêncio e a ausência são fazer mal ao outro. São as formas mais frias e cobardes de mostrar ao outro que é irrelevante, que não conta, que não é amado, de o prejudicar.

Vê-se nos casos em que as comunidades se calam perante agressões a determinados indivíduos ou grupos. Seja num caso de racismo e discriminação, seja nos muitos casos de denúncia pelas vítimas de crimes de violência sexual ou violência doméstica, seja em ataques coletivos concertados a um alvo. Calar (ou mesmo remeter a fala e ação para outras instâncias, como tribunais ou governos, isentando-nos de tomar partido) é tomar parte pelo agressor(es) e virar a cara à(s) vítima(s). O silêncio afeta mais mulheres e outros grupos mais vulneráveis, porque é sempre mais fácil escolher o silêncio que beneficia os mais poderosos.

Vê-se nas relações pessoais quando as pessoas escolhem a ausência e o silêncio. E são sempre casos chapados de desamor agudo e de indiferença. Não há atenuantes.

Vê-se nos comportamentos quotidianos que deixamos de ter. De cada vez que podemos ajudar alguém e não o fazemos – a moeda ao sem abrigo, o telefonema à amiga que sabemos em baixo, a pessoa em aflição que se cruza connosco,… Quando temos informação que pode beneficiar um terceiro mas não a partilhamos e ficamos a assistir à falta que o que sabemos lhe faz. Das vezes que magoamos outros e não nos damos ao trabalho de pedir desculpa e de nos esforçarmos para reparar a relação, reiterando e repetindo desta forma o que originou a mágoa. Nas ocasiões em que uma palavra pública nossa amenizava a situação, mas preferimos deixar os eventos agrestes para alguém em vez de os amenizarmos. Os exemplos são intermináveis.

Como bem dizem os católicos, temos de responder por atos, palavras e omissões. As omissões são escolhas deliberadas, são violentas, são corrosivas, são formas frias e cobardes de desamar o outro. Pela minha parte, são determinantes para a minha opinião sobre pessoas e comunidades as omissões, silêncios e ausências que escolhem ter. Um momento infeliz todos perpetramos ocasionalmente, um erro de avaliação que explode numa qualquer ocasião. Mas a escolha continuada, ponderada, deliberada do silêncio, da ausência e da omissão é um espelho demasiado cru da pessoa ou da comunidade.

Não foi para isto que se fez o Natal.

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360

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Sempre considerei que tinha sorte com as pessoas que me apareciam na vida. Tenho um conjunto fenomenal da bons amigos, quase todos de há muitos anos (anos? décadas, devia dizer, que descreve melhor estas longevidades). Casei com um homem bom (e continua um homem bom, depois de termos descasado). Mas na verdade fiquei sempre numa certa zona de conforto, no meu mundo: os amigos do colégio, os amigos dos amigos do colégio, os namorados e namoradas das amigas e amigos (e depois os maridos e as mulheres da mesma pandilha), os amigos destes, as pessoas do CUPAV. Tirando escassas exceções, não fiz amigos no trabalho. Pessoas com que me dava muito bem, sim, mas amigos (uma categoria de eleição cheia de requisitos complicados para entrar), bom, não diria tanto. Sempre me impressionou como as pessoas com que me relaciono na política ou na comunicação social dizem de outros que são amigos, quando apenas se viram meia dúzia de vezes e têm uma relação perfeitamente casual e desligada. Eu posso dizer que gosto das pessoas, que me dou bem com elas, mas amigos, bem, faltam uma série de experiências mais vinculativas que os juramentos de sangue para chegarmos a tanto.

Adiante.

Na verdade, quando saí desta redoma, pelas redes sociais, pela blogosfera, pelos novos projetos, e me comecei a dar com mais pessoas, não corre muito bem. Podem ser pessoas interessantes, até intelectualmente mais estimulantes, com experiências que gosto de ouvir, aqui e ali dá-se o caso de gostar mesmo muito de alguns exemplares, mas muito raramente (existem só aqui e ali, lá está) são pessoas com que possamos estabelecer relações significantes. Há pessoas com valores que chocam em colisão frontal com os meus e e deflagra uma guerra termonuclear. Num caso ou noutro de fanatismo reforçado, estou firmemente convencida que, calhando terem nascido nas primeiras décadas do século XX na Alemanha ou na Rússia, teriam alegremente enveredado por carreira de algozes de Hitler ou de Stalin. Há mentira e dissimulação de uma dimensão que não se pode tolerar em relações pessoais. Há discursos e narrativas dissonantes das nossas, o que é natural e esperável para um é esotérico e incompreensível para outro. Há agendas pessoais que se cruzam e se sobrepõem a tudo. Há deslealdades e traiçoeirices e há almas para quem ser desleal e traiçoeiro é tão natural quanto respirar. Já encontrei pessoas que só posso qualificar de psicopatas. Outras, não chegando a esse patamar cimeiro, são má rés ainda assim. Não posso baixar a guarda – das vezes que o fiz correu mal. É um novo meio cansativo e pouco recompensador, que exige demasiado esforço para reduzidíssima retribuição – se alguma, que o objetivo é sobretudo usar os outros em benefício próprio, lá agora estabelecer relações pessoais enriquecedoras.

Eu, muito mal habituada que vinha da minha redoma, não me dou bem nestes ambientes. Aprecio estabilidade e solidez nas relações e nas pessoas. Gosto de espécimes humanos fáceis que eu consiga ler. Não gosto de jogos nem de quem se coloca em pedestais. Gosto de pessoas que se deixam encontrar. Gosto de boas almas para quem a palavra vale e significa o que lá é dito. Não gosto de cobardes nem de quem não diz o que quer e ao que vem. Não tolero crueldades ou leveza com o bem dos outros. Descarto afetos relutantes que só são dados tarde e a más horas. Não convivo com quem faz negócio da humilhação e do enxovalho dos outros quando estes se expõem, ou que participa em carneiradas de bullying aos antigos aliados quando estes precisam de proteção. Às tantas a única emoção que me resta pela maioria destes exemplares, além de um brutal cansaço, é ressentimento por me terem feito acreditar que eram pessoas límpidas e claras de quem eu podia gostar e em quem podia confiar. E odeio ter em mim emoções tóxicas.

Pelo que em se tratando de pessoas é mesmo uma volta de 360º. Nada me delicia mais que ouvir alguém que fala como eu, que tem os mesmos conceitos que eu, que parece que está na minha redoma desde sempre, que me faz regressar ao princípio.

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Magda Resende Ferro, às voltas com alguma coisa (que felizmente desconheço)

Uma senhora chamada Magda Resende Ferro, da Universidade Católica Portuguesa, pessoa que eu já tinha retirado do meu facebook, apanhou-me no mural de uma outra pessoa quando eu estava a protestar pela forma como se estava a criticar ‘uma miúda’ (Greta Thunberg). A crítica, evidentemente, era por ela ser ‘miúda’; para evidenciar que faço as mesmas críticas quando os adultos abusam de ‘miúdos’, i.e., rapazes, coloquei os links de uma coluna de opinião minha e de um post de facebook onde repudiava tratamento dado a adolescentes rapazes. Mas a boa da Magda Resende Ferro entendeu meter-se na conversa e afirmar-me uma pessoa ‘perdida’, obcecada com o #metoo, com reações violentas e ‘vendo ataques ao feminino em tudo’. E, apesar de dizer que não valia a pena perder tempo comigo, pôs dois comentários para eu ver, a seguir enviou-me uma mensagem via messenger e denunciou o post seguinte que eu fiz a gozar com ela. Que foi retirado pelo facebook – obrigada, facebook, deixas passar discurso de ódio em barda, fake news, ajudas a dar cabo de processos eleitorais, violas a privacidade dos teus utilizadores, mas apagas um post onde eu denuncio a boa conduta da querida Magda, que por acaso até era, esse sim, um ataque sexista e anti feminista. Way to go, facebook.

Portanto, façamos aqui uma pausa e apreciemos a postura de Magda Resende Ferro. Como o facebook está muito puritano, então claro que a Magdazinha não tem nenhuma obsessão comigo, nada disso. Andou à cata de mim no mural de outras pessoas para ver se me conseguia dar a saber a sua opinião sobre mim (interessa-me deveras; isso e a longevidade do bicho da madeira), foi ver o que eu escrevi sobre ela, depois de lhe dar uma desanda como resposta em comentários manda-me uma mensagem, oh god, mas não tem mais nada que fazer na vida?

A querida Magda Resende Ferro, docente universitária, também é intelectualmente muito séria. Vê uma crítica minha por causa de uma adolescente mas representa a minha crítica como um absurdo de feminismo. Seriíssssssssssima, a senhora. Ou intelegentíssssssssima. Certo, facebook? Pois é.

Também tem piada. A dita Magda sobreviveu à minha obsessão pelo #metoo durante mais de um ano, e ao resto dos feminismos durante não sei quanto tempo mais, e até se dizia grande apreciadora das minhas opiniões. Só mudou quando eu impliquei com as suas opiniões. Também é uma muito pessoa consistente, não é, facebook?

Mais piada: esta Magda Resende Ferro costuma falar muito contra o politicamente correto. Como todas as pessoas que vêem politicamente correto em tudo, e ficam muito indignadas, quando o discurso politicamente incorreto é contra elas, deixam logo de ser grandes amantes da liberdade de expressão livre do politicamente correto.

Uma senhora admirável, em suma.

Publico este post aqui, porque não levo a bem que me apaguem posts em que eu denuncio comportamentos errados que me eram dirigidos, e aqui fica a salvo do facebook e acessível pelo google. E a história de stalkers, pessoas intelectualmente desonestas, inconsistentes e que fazem por apagar as palavras de outrem merece sempre ser contada.

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Factos alternativos de sócrates

Vi ontem à noite a entrevista de sócrates. Ora bem:

1. Fiquei com mixed feelings com a utilidade da coisa. Percebo o interesse jornalístico da entrevista, e a circunspeção do entrevistador que quer deixar o entrevistado contar a sua versão da história, mas a verdade é que o resultado foi penoso. Vítor Gonçalves pôs sócrates na ordem algumas vezes, e até acredito que haja alguma dificuldade em confrontar um mentiroso impenitente que insiste em viver numa realidade alternativa. Mas para quê dar tempo de antena àquele exercício de aldrabice escancaradamente evidente sem que tal tenha sido chamado de aldrabice?

2. Adorei. Achei lindo, arrebatador mesmo, quando sócrates, mostrando as suas ‘provas’ – para contrapor às ‘alegações’ do MP -, nos quis convencer que umas palavras de Armando Vara eram credíveis para o que quer que fosse. Ou que não fora ele a escolher Vara, mas o ministro das finanças. (A carta de demissão de Campos e Cunha que estava em casa dele conta outra versão, mas a sócrates interessam mais os factos alternativos). Ou que Santos Silva lhe tinha emprestado quantias pequenas. (??????) Ou, a minha preferida, querendo mostrar o papelinho da abertura de uma conta de Santos Silva como provando o que quer que fosse. E argumentando, aparentemente sem estar charrado, que o MP nunca dissera a ninguém que as contas estavam em nome de Santos Silva e não de sócrates.

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‘Eat Shit and Survive’

Estar em casa com uma criança adoentada dá-me para isto: por-me aos pulos para grande educadora do povo. Pelo que aqui vai um bocadinho da minha dissertação de mestrado – leitura compulsória para todos os que andam no meu blogue – sobre a nostalgia da época maoista que varreu a China na última década do século XX. Ou, como os amigos lhe chamam, ‘the Mao craze’. Um subcapítulo de um capítulo com intitulado «’Eat Shit and Survive’: Ondas de choque da Revolução Cultural».

Ah: ‘xia xiang’ é o petit nom de ‘Shang shan, xia xiang’ (上山下乡) – ‘Subir à Montanha, Descer à Aldeia’ – movimento que levou, durante a Revolução Cultural, cerca de 17 milhões de jovens das cidades chinesas para as zonas rurais, para serem devidamente educados no fervor revolucionário pelos camponeses (que os jovenzinhos depois vieram a descobrir serem uns tremendos reacionários que não gostavam nada das ideias coletivistas radicais de Mao, mas isso é outra história.) E ‘zhiqing’ é o nome por que ficaram conhecidos os ditos jovens citadinos – os zhishi qingnian (知识青年), literalmente jovens educados. Continuar a ler

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O Caso Spotlight e divagações

American actor Mark Ruffalo poses during the photocall for the movie " Spotlight "  at the 72nd Venice Film Festival, northern Italy September 3, 2015.  REUTERS/Stefano Rellandini

American actor Mark Ruffalo poses during the photocall for the movie ” Spotlight ” at the 72nd Venice Film Festival, northern Italy September 3, 2015. REUTERS/Stefano Rellandini

Fiquei desconcertada com esta crítica de Eurico de Barros ao filme O Caso Spotlight. Não exatamente pela apreciação do filme, ainda que também não concorde com ela. Não será um filme life changing – mas até pode ser, porque é um valente murro no estômago na forma de vermos a Igreja transformada numa fábrica de destruir crianças e adolescentes e, além disso, de uma máquina de proteção de abusadores sexuais de crianças que não pode se não ser aviltante para alguém católico (eu, por acaso) ou com valores filhos da civilização judaico-cristã – mas é um filme que conta de forma muito competente, e com interpretações irrepreensíveis, uma ótima história. E sendo eu uma pessoa que adora histórias (sou boa ouvinte, de pessoas interessantes e inteligentes of course, por alguma coisa), e que considero que por mais encantos formais que tenham um filme (ou um livro) não se aguenta sem uma boa história, isto já é dizer muito de O Caso Spotlight. Prefiro filmes assim do que filmes pomposos que pretendem sobretudo mostrar a genialidade do ponto de vista do autor sobre o mundo e que a maior parte das vezes não passam de exercícios de vaidade.

Mas lá no fim do texto confesso que me escapa a relevância de fazer equiparar – como se fossem fenómenos de igual dimensão ou maldade – a invenção de casos de abusos para exigir indemnizações à Igreja ou (suspiro) a implantação de memórias falsas (em adultos) de abusos sexuais ocorridos na infância. Até se dá o exemplo de um filme de Oliver Stone – quem mais? – sobre estas memórias falsas e injustas. (Não será mais relevante fazer um filme contando como nos meandros da Igreja – porque O Caso Spotlight conta a investigação jornalística que desmascarou os abusos e o encobrimento pela hierarquia católica em Boston – se lidou com esta questão?)

Ora andei a estudar nos últimos anos, para a dissertação de mestrado (cujo powerpoint para a defesa devia estar a preparar neste exato momento em vez de escrever posts) a memória de trauma, incluindo a forma como a memória traumática se fixa e é armazenada no cérebro. Esta polémica das supostas memórias de abusos sexuais na infância implantadas por psiquiatras e psicólogos malévolos surgiu na década de 1980, quando – e evidentemente para desacreditar – começaram a aparecer relatos sobretudo de mulheres (essas histéricas mentirosas) dando conta de terem sido vítimas de abusos sexuais, geralmente em contexto familiar, durante a infância e muitas vezes continuadamente. A polémica tinha razão de ser porque se questionava, por exemplo, se este tipo de memórias podiam servir de prova em tribunal.

A teoria psicanalítica considerava que as memórias traumáticas eram guardadas no cérebro e esquecidas, reaparecendo difusamente depois em forma de pesadelos, flashbacks e através da repetição compulsiva e involuntária do evento traumático. Mas estariam guardadas intactas no cérebro e podiam ser acedidas mais tarde através da hipnose ou de alguma catarse provocada por medicação. Entretanto já muito se estudou e as conclusões são escassas. Bessel van der Kolk, que investiga a neurobiologia do cérebro face ao trauma, fez um estudo famoso (mas polémico e contestado) que aparentemente confirma esta integridade das memórias armazenadas no cérebro. Mas permanecem abertas imensas questões, desde logo a razão porque algumas vítimas de trauma comprovado o lembram muito vividamente e outras não o lembram de todo. Muito em resumo, sabem-se algumas coisas. O trauma e a memória traumática deixam, de facto, uma cicatriz no cérebro, o que se comprova ao nível da neurobiologia. As memórias de eventos emocionalmente intensos tendem a ser mais fiáveis e a perdurarem mais, mas níveis de stress altamente intensos podem bloquear a fixação normal da memória, tornando-a de difícil acesso ou fragmentada. As memórias traumáticas são diferentes das não traumáticas: as traumáticas centram-se, por exemplo, nas emoções da vítima no momento (o medo, desde logo, a sensação de descontrolo sobre o próprio destino,…), no tom de voz do agressor, nos olhos,…; enquanto que as memórias não traumáticas são mais descritivas, mais factuais, mais em estilo reportagem (quantas pessoas, roupas, localização espacial,…). (É por isto que quando me dizem que os testemunhos do caso Casa Pia não são válidos porque as vítimas não conheciam as divisões e a morada da casa onde diziam terem sido abusados, eu respondo que de facto não foi isso que ficou registado na memória das vítimas e muito estranho seria se conseguissem descrever a casa como se lá tivessem sido visitas.) E no que toca a crianças não se sabe de todo, porque se já há muitas dúvidas quanto à fixação e armazenamento das memórias em adultos, a memória na infância é diferente, o mundo das crianças está impregnado de fantasia e desconhecimento do mundo, e todos sabemos que perdemos a esmagadora maioria das memórias da infância. Mas o que nunca se concluiu (e estudou-se) é que as memórias não se podem recuperar ou que as memórias recuperadas são falsas.

Pelo que Oliver Stone – que não é desconhecido das teorias alucinadas – até pode ter feito um filme interessante sobre alguém sugestionável que se convenceu que havia sido abusado na infância (não vi o filme referido). Mas é absolutamente irresponsável que num assunto sensível como o abuso sexual de crianças se coloque como fenómeno significativo e fiável uma onda de memórias falsas implantadas por gente maldosa nos cérebros fracos das senhoras (geralmente são senhoras) que lhes pagam as consultas.

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Todo o tempo do mundo

Não sei o que António Costa (e o PS) pretendem com estas conversas com o PCP e com o BE, nem me é muito importante saber. Curioso estou com a reunião marcada para amanhã com Passos Coelho e, presumo, Paulo Portas. Será o teste definitivo, último, da utilidade que resta a esta pobre III República para o bem comum. Se dali não sair um compromisso, de qualquer base ou incidência, que permita estabilidade a médio prazo na ação governativa então estes três, independentemente do grau de culpa de cada um, não servem para nada. Juntam-se à irrelevância do inquilino de Belém.

Não, não temos todo o tempo do mundo.

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O tempo esse grande escultor, como dizia a Marguerite Yourcenar

relógios

Gosto dos marcos que são as datas. Os anos – e às vezes até os meses – depois de determinado evento ajudam-me a arrumar o passado e a decidir o que vou reclamar do futuro (com o meu precioso labor, claro, que não há futuros grátis). As datas são boas para decidir o que é, afinal, perene na minha vida e o que já caducou. O que é motivo de undying satisfaction e o que não gera nada que não dissabores. Aquilo por que que o meu temperamento persistente vai continuar a disparar para todos os lados para proteger e obter e manter e aquilo por que já não me dou ao trabalho do ato mais mecanizado. Toda a gente garante com grande convicção que o tempo é o mais severo e certeiro juiz – e têm razão. Os livros bons são os que resistem ao tempo, os filmes idem, as ideias, as ideologias, a moda, as carteiras – tudo. Para mim o critério do tempo é sobretudo válido para as pessoas. Há as que estão e sempre estiveram e vão ficar para sempre. As que por magia aparecem sempre quando eu preciso. As que estiveram mas afinal não marcaram e misturaram-se na multidão. Há as surpresas que nos iluminam. E há as que, apesar de muitas promessas, never deliver – ou, como se ouve nos comentários desportivos, falham na concretização. E, pior, há as tóxicas que, de cada vez que calhamos aproximar-nos, lá temos inundação de agravos. Também há, claro, as indiferentes. Nada melhor que o tempo e os marcos do tempo para catalogar cada pessoa corretamente e, se necessário, arrumá-la definitivamente na prateleira mais alta da estante, junto dos livros que não nos arrebataram. Ou, pelo contrário, colocá-la nos livros de uso frequente que estão na mesa de cabeceira.

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É o que dá a falta de rega nas ideias e métodos do PS

rosa murcha

Conclui esta semana (depois de prolongadas suspeitas de várias doenças do foro psicológico) que as cabecinhas socialistas enlouqueceram de vez. Foi Ferro Rodrigues que veio afirmar candidamente que o PS defende mesmo de há quatro anos, mais mês menos mês da altura em que faliram o país. E foi o pré-programa (e mais sobre esta coisa dos pré-programas depois) do PS que vem afiançar-nos que a política que nos trouxe uma década de estagnação e, a seguir, bancarrota, é a mesma que nos vai fazer enriquecer em três tempos.

Como estão muito convencidos que os eleitores são burros de todo (e, bem, os eleitores votaram duas vezes em sócrates, pelo que já mostraram em tempos fraco discernimento), nem se dão ao trabalho de mudar qualquer coisa no discurso e nos métodos. Acham-nos tão patinhos que, apesar de já termos levado pancada à séria à conta das escolhas do PS, vamos continuar a querer levar pancada do PS – porque, todos sabemos, o mesmo discurso e os mesmos métodos levam às mesmas consequências.

Nas últimas eleições, o eleitor desencantado não se deu ao trabalho de abandonar os mais interessantes afazeres da sua vida para ir até à escola ou junta de freguesia para votar no PS. Nem com o incentivo de poder aparecer na tv (à entrada ou saída dos locais de voto) entregue às boas causas de salvar a paz no mundo, terminar a crise dos refugiados ou alimentar todas as crianças de África (com o voto, pois claro). Já tinha percebido (finalmente!) a inutilidade e futilidade e desonestidade do discurso do PS. E, da próxima vez, vai suceder exatamente o mesmo.

(As próximas eleições vão ser uma competição entre PS e coligação para ver qual dos blocos produziu menos desencantados.)

Mas o PS, aparentemente, pensa que acorreram todos a votar, esperançosos que o PS apoteoticamente desta vez estivesse à altura (do que quer que seja que o PS pode estar à altura). E que o eleitor continua entusiasmado como na primeira hora do pós santanismo. (Os egos insuflados são tramados.) Em suma: pelo PS ainda não perceberam que os encantos do PS e das suas propostas não são suficientes para cobrir tamanho manancial de burrice, estupidez e falta de respeito pelos eleitores.

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tragicomédia grega

Buddha in Wat Arun Thailand

Regressando aos amorzinhos gregos, que por estes dias andaram com a bazófia do costume ameaçando que fariam default aos pagamentos do empréstimo do FMI se a UE não enviasse mais daquela coisa que sócrates gosta muito para Atenas. (E como se ainda tivessem margem para ameaçar ou exigir o que seja.) A boa fé, a transparência, o respeito mútuo e a honestidade costumam ter sucesso quando se trata de negociar e não é possível conceber estratégia mais descabelada do que a grega desde que o syriza ganhou eleições. A única conclusão que se pode tirar é a de que quiseram hostilizar e insultar a outra parte. Toda a boa vontade, toda a paciência, todas as novas oportunidade e todos os gestos de, digamos, reconciliação por parte da UE foram recebidos com desprezo, ignorância e até má criação ostensiva. Isto tudo enquanto o governo grego mentia repetidamente e prometia as míticas – tão reais como o Minotauro – contrapartidas para novo empréstimo da UE que, oh que surpresa, nunca chegou a apresentar. Toda a gente vê isso.

E o mais risível nisto tudo é que o governo grego nem percebe que pela UE se está mais perto de se lhe dar estalos do que dinheiro. Que as opções benevolentes que eram oferecidas a Grécia há uns meses (quando a paciência – e o gosto geral na humanidade de não ser insultado – ainda não estavam esfrangalhados) já não estão disponíveis agora, porque a Grécia tem de provar muito mais que merece oportunidades (porque já deu cabo de tantas). Que ninguém acredita nas reedições das conversetas do costume (e nem se dão ao trabalho de variar o guião), porque se só proferiu mentiras e criou equívocos até agora, é evidente que comportamentos iguais aos anteriores serão filhos amantíssimos de novos equívocos e de novas mentiras e nem vale a pena a UE dar-se ao trabalho de lhes responder. Que só o facto de o governo grego agir como se não tivesse estado meses a insultar quem com eles negoceia, e aja como se as relações ainda fossem límpidas e distantes de mal entendidos, dá vontade de espetar alfinetes em qualquer grego que nos apareça à frente. E, por fim, que ninguém na UE vai correr o risco de dar nova oportunidade à Grécia para levar com igualmente nova dose de má criação e ser mais uma vez desprezada; que só vem nova oportunidade se houver clareza cristalina e se a Grécia der garantias explícitas (e aquelas alminhas nunca se cansam de fazer o contrário) de que histerias e ofensas não é o que se seguirá.

A comunicação social europeia, pelo seu lado, podia deixar de estar embasbacada com a proficiência de Varoufakis em teoria de jogos, como se tal especialidade lhe desse algum insight sobre forma de negociar. Teoria de jogos, posso garantir, é uma simplificação que de modo nenhum introduz a variável ‘natureza humana’. Era mais provável Varoufakis ser bem sucedido como especialista nas Quatro Nobres Verdades do budismo theravada.

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Diálogos de Morfeu

dialogues paradise

Para quem quiser ler algo verdadeiramente surreal à noite antes de ir dormir, a gerência da farmácia recomenda o Dialogues in Paradise da Can Xue (ou qualquer outro livro de contos da autora). São contos pequenos – e ainda bem porque não percebemos nada. (Tenho o romance Five Spice Street lá em casa (im)pacientemente a aguardar leitura na minha mesa de cabeceira, mas ainda não me decidi a lê-lo, que não sei se aguento duzentas páginas inteiras de incompreensões.) Com a Can Xue não ficamos seguros de ter entendido as metáforas. Quando pensamos que até compreendemos, sobram várias pontas soltas que não sabemos se estão lá por razões estilísticas se até têm algum significado – marginal ou, pior ainda, fulcral. Ficamos com a ideia de que há informação que não está dita – mas, hélas, humildemente reconhecemos que estamos à nora quanto a descobrir se a informação foi a autora que não deu (não pôde, quis malevolamente torturar os seus leitores adoráveis, whatever), se é a própria história que tem estes hiatos de informação ou se somos nós que deveríamos contribuir com alguma informação para o processo (um vislumbre ou outro da realidade chinesa, por exemplo). As perguntas que o nosso espírito vai colocando ao texto ficam invariavelmente e irritantemente sem resposta. E quando finalmente pensamos que estamos a perceber a Can Xue, de cada uma dessas vezes a autora troca-nos as voltas e lá reconhecemos que estamos no (desesperante) ponto inicial.

Este espesso véu de incompreensão não retira todo o fascínio à leitura mas, claro, cansa (algum dia, se calhar, de vez). A seguir a isto quase somos tentados a pegar num imbecil page turner do Ken Follet, onde tudo é óbvio e fácil e ganhamos saudades do mistério e da subtileza.

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O sexismo benevolente, ou dois idiotas

Leio no Observador que dois psicólogos investigadores de Boston determinam que as “atitudes amistosas e cavalheirescas”, minha mãe ensinou-mas como gestos de boa educação, afinal servem para “mascarar chauvinismo e padronizar pontos de vista”, sendo sinais de “sexismo benevolente”.

Minhas senhoras, a partir de agora, já sabem, quando estiverem a entrar no prédio tenham cuidado que eu vou arremeter pela porta dentro em jeito de carga de ombro!

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This is the end


My only friend, the end

No safety or surprise, the end

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desencontros

Jinnah_Gandhi

Esta relação da Índia e do Paquistão depois da partição é uma relação de desencontros if ever there was one. Daquelas situações em que já não se sabe o que fazer, se há alguma coisa a fazer e a recuperar e, havendo, se vale a pena e leva a algum lado fazer. Quem criou mal entendidos e o ambiente onde os mal entendidos proliferam parece querer apenas continuar a (des)conversar – e um modo de comunicação direto e descomplicado é essencial mesmo nas relações entre países menos mutuamente traumatizados – sem que nada se altere. O que é insustentável e causa danos. Era heaven on Himalaias que o desequilíbrio provocado pela China – nem que fosse levada apenas pelas suas próprias complicações muçulmanas no Xinjiang – conseguisse o paradoxo de algum equilíbrio nesta parte da Ásia. Pelo menos, para começar, comunicação sã. Vamos ver se estão dispostos a isso.

‘Interests shift, however. China needs Pakistan on another front now. This month a Uighur suicide bomber killed as many as eight people in the volatile Chinese region of Xinjiang, near the border of Pakistan. It was the latest in a series of attacks by Muslim Uighurs resentful of domination by the Han Chinese. Some Uighurs have embraced jihadi Islam, an ideology for which plentiful schooling and terrorist training is available in both Pakistan and Afghanistan. In this light, reining in the Taliban looks a little more attractive to the Chinese than it once did. And, as the United States learned long ago, if you want to do something about the Taliban, you’d better do something about Pakistan.’

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A segunda frente

Hoje de manhã ouvi nos noticiários que o Parlamento grego irá criar uma comissão parlamentar de inquérito para apuramento de reparações de guerra devidas pela ocupação alemão do estado helénico na II Grande Guerra.

Esta é uma questão para mim muito mais importante do que todas as outras que preenchem os espaços de informação desde a vitória do Syriza. Afinal, passados mais de 69 anos desde a capitulação dos exércitos alemães aos aliados, haverá ainda contas para saldar?

A acompanhar.

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Undisputed

A recente entronização de Alexis Tsipras  – um primeiro-ministro mais novo do que eu! Já não bastava o meu filho mais velho que com 14 anos está praticamente da minha altura… – tem levado muito (e boa) gente a fazer comentários sobre uma certa desgréciaaça (isto da desgrécia foi publicado num jornal em Espanha). Ora esta eleição, sob qualquer prisma, é sempre positiva para o burgo nacional: se a Europa dogmática se encolher, a seguir vamos nós exigir de mão estendida  o mesmo tratamento – não pagamos e dêem cá mais; se o Alexis e o wonderboy das Finanças se virem metidos numa daquelas alhadas que nem a Virgem os safa, será uma excelente altura para os Passos desta vida (e se calhar os Costas também) poderem mais uma vez reafirmar que nós não somos a Grécia – e já agora uma ajuda suplementar para os bons alunos vinha a calhar.

Também há quem chame a isto pragmatismo.

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Tambor de revólver

Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

Vamos lá, que hoje é sexta-feira. Às vezes apetece tudo, outras tantas nem por isso. É um pouco como o tambor do revólver: tem bala ou não tem? Ou como a Quadrilha do Carlos Drummond de Andrade, todos tinham, efetivamente, nada. Menos a Lili. Sobrou-lhe o tal Fernandes.

Amanhã é sábado.

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Admirável mundo novo

Uma criança de cinco anos faltou à festa de um amigo da escola, depois de confirmar a presença, e agora o pai corre o risco de ir a tribunal, porque a mãe do aniversariante, ou “queixoso”, quer reaver o dinheiro que pagou pelo “faltoso”.

Eis um excelente teste para a propagada fleuma britânica!

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Vai que não vai…

… e li, pela primeira vez, um clássico da literatura brasileira. Há muito que o pretendia e há muito que o ia adiando, mas graças às recomendações da Amazon acabei por optar pelo Dom Casmurro de Machado de Assis.

Como resenha, basta dizer que fiquei siderado. E é isto.

Bem, não é só isto. Tenho o hábito de me associar sempre a um personagem, há quem lhe chame emular. Depois de ler o livro, não me importava de me identificar com Escobar, ou até, vá lá, com o agregado da Rua de Mata-cavalos. Servia o pai de Capitu.

Mas depois de todas as páginas viradas não passo de um Bento Santiago…

Mal por mal vou-me cá deixar com os nossos deste lado do Atlântico.

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da chick lit para o islão

Tendo a achar piada à chick lit. Desde a sua inventora – a quem nem sempre se dão os créditos – Anita Loos com os seus Gentlemen Prefer Blondes e But Gentlemen Marry Brunettes (e quem não perceber que são dos dois livros mais geniais e emblemáticos do século XX, além de um fabuloso retrato de uma era, não devia incomodar livros que não sejam de banda desenhada) até às mais recentes Candace Bushnell (The Sex and the City, Lipstick Jungle, One Fifth Avenue), Helen Fielding (Cause Celeb e os dois diários de Bridget Jones) e (chego à que me interessa) Plum Sykes. Ora a Plum Sykes, além de colunista da Vogue (onde comecei a lê-la), tem dois livros bem humorados e bem escritos sobre os temas da chick lit (amizades, romances, venturas e desventuras das mulheres citadinas) que são também dois bons esboços da Nova Iorque chic, well off e amante de festas. No segundo (e tão mais fraco) livro (mas onde a roupa de cama em linho português é um dos exemplos de luxo anotados), Plum Sykes tem como personagem uma mulher saudita, daquelas muitas que têm a possibilidade de fugir para os países ocidentais, onde compram e usam roupas decotadas e sugestivas, têm total liberdade de movimentos, colecionam namorados e têm a vida sexual abundante e livre que tanto repugnou a uma boa porção de clérigos muçulmanos desde o início do século XX. E a vilã da história é uma americana que esta saudita consegue convencer a envolver-se com o seu tio. O castigo? Foi tornar-se uma das mulheres do tio – sem se aperceber do que lhe iria suceder, que é sempre mais fácil dar informação difusa (se alguma) a uma ocidental exigente e era o que faltava um homem saudita ter de dar satisfações a uma mera mulher sobre as suas intenções e timings e responder com clareza às questões que uma americana histérica lhe coloca, que quem dita os termos é o homem saudita e às suas esposas cabe esperar pacientemente que lhe sejam revelados e, preferencialmente, adivinhá-los partindo de sinais sobretudo emitidos para lançar confusão -, ser levada para a Arábia Saudita e nunca mais ser vista se não de niqab nem fora do ditoso país; enfim, tornar-se uma ‘esposa saudita’.

Lembrei-me disto a propósito da possível viagem para a Síria da mulher (e cúmplice?) de um dos terroristas de Paris. Se colaborou de alguma forma nos atentados, não deixo de considerar que ter de passar o resto da vida no estado islâmico and the likes – onde as mulheres costumam receber os mimos que se sabe – é uma boa punição.

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Foi quando te vi…

Foi quando te vi estendido que percebi. Naquele momento era eu que estava no chão.

Foi quando vos vi estendidos que percebi. Naquele momento, em cada um, era eu que estava no chão.

Fui eu estendido, fui eu que levantei a mão.

É isto que não me quero esquecer.

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Do horror

Isto não foi um horror; isto é um horror. E eu não sou Charlie, ninguém é. Perderam-se vidas humanas, pessoas que têm o seu nome próprio. O delas. Esse é que é o meu nome. O de cada uma delas.

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E agora? Que mais ódios aparecerão?

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Mimo de Ano Novo (poucas horas para lá chegarmos…)

Votos para 2015? Que seja um ano mais decente. De todos e para todos, eu inclusive (porque por vezes coloco-me à parte).

Ainda estamos na Oitava do Natal. Hoje é o mais importante para mim.

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Mimo de Natal

Nasceu!

 

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Presépios de Natal

Retomando uma tradição antiga nesta casa, a todos um Feliz e Santo Natal. É esta certeza do Menino que veio ao nosso encontro que celebramos.

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(Presépio encontrado aqui)
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Lord Goring

A partir de uma conversa no twitter, relembrei o An Ideal Husband, de Wilde, que teve esta adaptação tão cara ao meu querido e suscetível coração. O Lord Goring é das minhas personagens preferidas da literatura, em forma dramática ou não. Depois de uma feroz perseguição de Mabel Chiltern, acaba pedindo-lhe para se casarem, não sem antes se redimir dos disparates passados (e mostrar-se merecedor da continuação das atenções) na ‘segunda palmeira à esquerda’ (ou lá o que é, confirmem no trailer). Uma das minhas tiradas preferidas de Lord Goring é dita ao seu pai, quando este quer ter uma conversa séria sobre a necessidade de Goring se casar. Aflito, Goring responde ao pai que só fala de assuntos sérios às terças feiras das dez horas ao meio dia (também é necessária confirmação de dia e hora) – e, presume-se, o pai que ficasse satisfeito por não haver também local específico (mas assim é menos um dado que necessita de confirmação da minha provável confusão). Mas, a haver, certamente não seria numa carruagem no Hyde Park, onde a adaptação coloca a dita conversa, que são necessários ambientes circunspectos, com madeiras nobres e escuras em abundância e damascos pesados nas cortinas, para conversas de assuntos sérios.

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Trabalhos de Hércules

Nestas últimas semanas tenho ponderado se é humanamente possível uma só pessoa, por maior e melhor equipa que possa ter a rodeá-lo, mesmo possuindo uma capacidade de trabalho inigualável, ter a capacidade de absorver toda a informação sobre a qual tem de tomar decisões unipessoais que todos esperamos serem as mais justas.

Falo do juiz Carlos Alexandre.

O Pedro Arroja também.

Julgo ser importante discutir, neste momento em que pelos menos temos a perceção de que ninguém está livre da alçada da justiça, se a mesma é cega, como se espera. Eu tenho dúvidas que tal seja possível em todos os casos que têm estado sob a jurisdição do TCIC. Está tudo muito concentrado num só homem.

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Se a parvoíce pagasse imposto…

Jorge Moreira da Silva diz que fiscalidade verde ajuda na criação de emprego

Tentem ao menos uma justificação para o esbulho com uma pequeníssima réstia de decência…

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Dêem-lhe tempo…

… e como já comentei no FB, tenho a certeza que este rapaz se fará um excelente central!

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Sobre a lei da cópia privada e conexos

O governo que se queixa das taxas e taxinhas dos municípios, relativamente à que tenta instituir e que dá parte do título acima, há de receber da minha parte muito pouco. Vejamos os livros. Em primeiro lugar sou um utilizador do Kindle importado dos States. Cópia privada zero, mesmo que venha a vigorar vão lá ao outro lado do Atlântico pedir a minha contribuição.

Consideremos outra questão. O download dos livros também é de lá, tendo muito recentemente adquirido e lido por uma fração do preço das edições portuguesas a Trilogia do Século do Ken Follet (um homem muito atreito a cenas de sexo, by the way – e agora que a palavra sexo aparece no post as visitas vão aumentar em catadupa e assim já me sinto menos culpado) e agora abalancei-me (palavra linda!) para um muito auspicioso Jerusalem: The Biography. Convertam os dólares que gastei e comparem com os euros que isto me custaria em terras lusas. Enriqueço o Sr. Jeff Bezos, bem sei. Mas as editoras de e-books em Portugal, que se dedicam a explorar o consumidor, levam tal como a cópia privada zero, que eu posso ser enganado mas de masoquista tenho pouco. E a máquina fiscal leva menos IVA e IRC, e isto, meus amigos, é serviço público. Deixar dinheiro cá é prejudicial para o futuro de todos nós, porque é como dizia o Zeca, eles comem tudo e não deixam nada. Temos de os curar com dieta.

Agora prendam-me.

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‘The Age of Extremes’ de Hobsbawm é agora: niqab, love jihad, ‘women and cows’ and so on

Os tempos estão de radicalização religiosa em todo o lado. E o sintoma mais visível disto é, como sempre, o enlevo com que a malta hiper-religiosa constrange a liberdade feminina. Este texto mostra como na Arábia Saudita as últimas décadas do século XX foram de crescimento da repressão. Algo semelhante ao que se passou no Irão, por exemplo, onde os costumes no tempo do Xá eram bem mais distendidos do que sob a república islâmica. (Também dá alguma resposta aos ocidentais umbiguistas que não suportam que o resto do mundo faça mais do que reagir ao Ocidente, e que adoram a autopunição, e que proclamam cheios de certezas que a radicalização muçulmana não é mais do que uma resposta às agressões ocidentais).

‘No piece of cloth throughout history has sparked more controversy as the veil. Many Muslim women are forced to wear it daily. The hijab has a spectrum, of course, from its most radical embodiments, the niqab, which covers the entire face, to loose fitting headscarves.

Saudi Arabia comes come second only to Iran in using the power of the stick (the Committee for the Promotion of Virtue and the Prevention of Vice or the religious police) to impose a particular form and color of hejab on all our women. And when I say all our women, I mean all: Saudi and non-Saudi, Muslim and non-Muslim alike.

The sheer size of the country means that each and every region of Saudi Arabia contains a great diversity of cultures, dialects and religious sects. Until the seventies, women here were free to wear almost whatever they wanted. Bedouin women wore bright clothes and burqas, the parting of their hair and their kohl-lined eyes left exposed. The women of the city donned their abayas, the fabric drawn in around their waists. The Arab women wore their colored hejabs, and the non-Muslim women dressed modestly and without a veil.

The women in my father’s village, Tarfa, to the north-west of Mecca, wore bright clothes with pink and white scarves wrapped around their heads and necks. Like the Bedouins, they left their faces and the parting of their hair exposed.

This all changed when the state-supported wave of religious fanaticism struck our society. The black abaya and facial covering was imposed on all female government employees, and on schools and universities. And the black hejab was imposed on all non-Saudi women, regardless of their religion or creed.’

Mais a Oriente ocorre um movimento semelhante. Os casamentos religiosos mistos são cada vez mais proscritos. Na Malásia muçulmana os casamentos mistos são socialmente desprezados e a apostasia um crime imperdoável. Na Birmânia os muçulmanos estão cada vez mais sob ataque dos budistas radicais e discute-se a proibição dos casamentos mistos. Na Índia é o que se conta aqui (ainda que não se conte como reagem normalmente as famílias muçulmanas quando as suas filhas casam com hindús).

‘After she married Mr. Khan — and changed her given name to Salma — her family disowned her.

But looking back, she says, it was easier being an interreligious couple in the 1970s than it is in India today. At least she felt safe. Now, in contrast, the news is filled with report of assaults on mixed couples.

In several parts of the country, consenting adults who have broken no laws have been threatened, beaten up and, in a medieval twist, had their faces painted black by pumped-up bands of roving men who disapprove of Hindu women in relationships with Muslim men.

There have been reports of women being forcibly shoved into cars and dragged to police stations, from which they are made to phone their parents. Adult women, treated like chattel, like criminals and like juveniles.

Right-wing assailants have stopped weddings between interfaith couples from taking place. They have even forced married women to desert their Muslim husbands, and to marry Hindus instead. […]

Even a poor man with few possessions feels he has something if he has a wife or a daughter whose destiny is his to control. Thus did a provocateur from the right-wing Vishva Hindu Parishad organization say, recently, that Muslim men “should leave our women and cows alone or be prepared for a massive retaliation.”’ (meus bolds)

E voltando ainda ao texto sobre o niqab, tem piada como se aceita que nos países islâmicos esta vestimenta é imposta às mulheres e seja afirmado algo como ‘The imposition of the black abaya is unnatural: it represents nothing but an obstruction on normal life and on the natural evolution that occurs in people’s manner and form of dress‘. Mas quando as muçulmanas o usam na Europa, vá-se lá saber por quê, isso é sempre resultado do mais puro exercício de liberdade dessas mulheres. E que a radicalização religiosa que esmaga os mais básicos direitos humanos das mulheres também ocorra na UE, bem, é apenas sintoma do mais saudável cosmopolitismo europeu e da ainda mais recomendável tolerância. Depois chegam os jihadistas europeus e fica toda a gente muito admirada.

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Yu Hua revisited

cries drizzle

A propósito de uma conversa sobre filmes e livros chineses, fiquei a pensar no Cries in the Drizzle, do meu querido Yu Hua, que foi talvez o livro mais bonito que li nos últimos anos. E um tudo nada diferente dos outros livros do autor. Está a anos luz do Brothers (que adapta a forma literária à vulgaridade da China atual da procura do sucesso material e a ostentação de poder económico – que geralmente inclui algumas concubinas da nova era). E mesmo do To Live, história do infortúnio repetido de um homem e da sua família, afasta-se por esta ausência da calamidade inevitável à espreita (apesar de haver calamidades em abundância no Cries in the Drizzle) e pela recusa deste retrato burlesco da história recente chinesa do To Live. Cries in the Drizzle percorre a Revolução Cultural sem que se dê grandemente por ela no livro. Não é uma sátira política (como To Live) nem uma sátira social (como Brothers). (E evidentemente também não é um livro de contos nem de ensaios – como outros de Yu Hua. E não li o Chronicles of a Blood Merchant nem o último Diqitian.)

É a história de uma rapaz – melhor: muitas histórias de um rapaz, contadas como se sem nexo – e são, parece-me, muito verdadeiras para com os chineses. Há a história do casal que acolhe e ama incondicionalmente o rapaz – e cujo amor é a redenção de todas as outras relações áridas e daninhas da sua infância e adolescência e o pilar emocional do homem citadino que o rapaz cresce para ser. Mas há também a história da negligência da família, o ódio do pai e a maldade de muitas personagens que sugerem ao rapaz a existência de afeto e que terminam – menos o referido casal – por rejeitá-lo, às vezes orgulhosamente, quando o rapaz já contava com esse afeto. A lição, dada em prosa quase poética, ainda que com sentido de humor: ao lado da maldade e da desafeição, há a redenção.

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Leituras maoístas

Como me interessa muito a mim – e tenho a bondade de supor que todos os leitores do Farmácia terão igualmente interesse tão assisado – a forma como a personalidade dos líderes políticos influencia a sua liderança (e como ando enredada no clímax do maoísmo que foi a Revolução Cultural chinesa), deixo aqui algumas sugestões que cruzam Mao homem com o Mao criatura política toda-poderosa na China (ou, mais acertado: debatendo-se campanha devastadora atrás de campanha devastadora para continuar a ser todo-poderoso).

lucia pyeMao Tse-Tung, The Man in the Leader, de Lucian W. Pye

dittmer

Aging and Political Leadership, ed. por Angus McIntire, com um capítulo de Lowell Dittmer sobre Mao.

mao jon spence

Mao Zedong, de Jonathan Spence, um livro pequeno (e com muitas falhas e omissões quem sabe se por isso) sobre Mao, mas que dá uma perspetiva curiosa (talvez demasiado benigna, ou talvez ainda sem algumas informações que os historiadores foram dando a conhecer ao mundo sobre Mao nos últimos anos) sobre a sua personalidade. A propósito do ressentimento de Mao para com os intelectuais que referi no post anterior, ofereço-vos duas citações (as traduções são minhas) do Mao de Spence.

«[E]le considerou os intelectuais de Pequim distantes e dando-se muita importância: ‘Eu tentava iniciar conversa com eles de assuntos políticos e culturais, mas eles eram muito ocupados. Não tinham tempo para um bibliotecário assistente que falava o dialecto do Sul.’» (p.34)

«Do ponto de vista marxista-leninista, dizia Mao, ‘muitos dos ditos intelectuais são de facto inexcedivelmente pouco educados’ e têm de perceber que ‘o conhecimento dos trabalhadores e camponeses é por vezes maior do que o deles’. Era um sentido de humildade que Mao recomendava que os seus ouvintes educados deviam cultivar.» (p.99)

E saindo do universo dos livros académicos, há também Mao, The Unknown Story, de Jung Chang (ou, em pinyin, Rong Zhang) e Jon Halliday, que tem como alfa e ómega a diabolização de Mao.

mao jung chang

Se quiserem ler as informações do livro acima em modo romance policial – bem como as constantes no livro do médico de Mao, Li Zhisui (que Jonathan Spence e vários outros historiadores usam como fonte) – podem escolher The Mao Case, de Qiu Xiaolong.

mao case qiu

O enredo policial é, como sempre, quase pueril. Mas (como sempre) os livros de Qiu Xiaolong valem pela descrição da China atual – os jogos de poder, a política que escancara todos os recantos das vidas chinesas, a ambivalência atual sobre a herança de Mao e a relação problemática da China com o seu passado, o fascínio chinês pela ostentação de riqueza e sexo. E, também muito interessante, as simultâneas lealdade e repulsa para com a China do autor (que é inteiramente transmitida para as histórias), que é um dos overseas chinese que abandonou a China pelos Estados Unidos depois de 1989.

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A vingança serve-se num samovar

Parece que Putin anda a ceder à velha tentação de ditadores (e proto-ditadores e – tanto quanto os deixam, que é mais ou menos os jornalistas publicitarem todas as insanidades que dizem – presidentes socialistas, laicos e republicanos): o culto da (sua própria) personalidade. Já tem até exposição mostrando Putin como o novo Hércules, um enternecedor presente de aniversário de fãs anónimos (cof, cof, cof) do facebook.

Pegando nisto, o que tem piada (bem, para quem está a milhares de quilómetros) na questão ucraniana (e no modo estridente como geralmente coloca a Rússia no meio das relações entre nações) é que está, da parte de Putin, pejadinha de natureza humana. Ora é a anexação da Crimeia como a longamente aguardada (pelo próprio) vingança de Putin pelos bombardeamentos americanos no Kosovo (que aparentemente não bastou a humilhação de um néscio Obama aquando do uso de armas químicas pela Síria), ora é o jogo de desencontros a que o desconcertante Putin tem obrigado os Estados Unidos e a UE.

(Aqui no meio de outros assuntos refira-se que os tiranos e os tiranos wannabe costumam ser dados à vingança. Mao também passou grande parte da sua vida no pós 1949, como presidente do PCC e, durante algum tempo também da China, perseguindo os intelectuais chineses, mesmo os afetos ao PCC. A principal razão das perseguições: nos anos 20 os intelectuais comunistas de Pequim não aceitavam o provinciano e pouco estudado Mao como um deles e Mao nunca lhes perdoou tal sentimento de superioridade.)

Vejamos. É a afirmação – às vezes expressa outras vezes apenas sugerida, assim ao estilo dos monarcas absolutos que se divertiam a indicar quem estava em favor e quem estava em desgraça através de subtilezas só percetíveis aos olhos dos cortesãos sedentos de atenções reais – de que se pretende paz e respeito pela autonomia das nações, quando os atos mostram um Putin inteiramente desinteressado daquilo que expressa ou sugere interessar-se. A defesa da estratégia de poder pessoal de Putin (mais do que a defesa dos interesses russos) é o seu único objetivo.

É a recusa de uma comunicação franca e aberta com os interlocutores ocidentais, sendo que a comunicação por meios dúbios e sobressaltados leva inevitavelmente a mal entendidos e a confusões (que são seguramente desejados por Putin). Mal entendidos porque a posição e as pretensões russas nunca são inteiramente afirmadas, de forma a que os interlocutores nunca saibam bem o terreno que pisam. Mal entendidos porque se atribui à Rússia uma vontade de paz que não existe, o que se leva a que se interprete com demasiada benevolência os atos e palavras de Putin. E mal entendidos porque a própria forma de comunicação é prenhe de ocasiões para gerar as ditas confusões (colocarem-se os separatistas ucranianos negociando como se não fossem marionetas de Moscovo, por exemplo).

E perante todos os mal entendidos e os imbróglios criados, e ainda perante todas as oportunidades que foram oferecidas à Rússia para deixar de ser belicosa (e TODAS Putin fez questão de rejeitar – desde logo com o desinteresse em incentivar Assad a entregar todas as armas químicas), a mensagem de Putin aos EUA e UE continua a ser o bluff ‘keep trying again and again, que eu tenho gás natural e petróleo que tanto precisam’. Quando, claro, a UE e os EUA já estão fartos de pagar para ver.

A UE e os EUA não estão isentos de culpas na questão ucraniana, desde logo por considerarem sagradas as fronteiras de um país que foi uma criação feita a olho no fim da primeira guerra mundial – e, no caso da Crimeia, ter sido uma oferta russa de há sessenta anos – e que terá inúmeros problemas separatistas e de animosidades regionais se permanecer intocado. (Os europeus divertiram-se a desenhar fronteiras aleatórias por quase todos os continentes e parecem ainda não ter dado conta que o resultado não foi feliz e que não vale a pena persistir no erro.) E muito certamente não vale a pena começar uma guerra com a Rússia por causa da Ucrânia. Mas também não é necessário nem aconselhável continuarmos como patinhos a contribuir para a estratégia de engrandecimento do ego de Putin. Putin pode bem, se quiser, tomar a iniciativa de apaziguar as posições extremadas de todo o mundo. Esperemos sentados.

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O endorsement que faltava

umbrella rev3Informa-se que este blogue apoia a umbrella revolution.

Aqui dois textos do South China Morning Post (que, helas, com grande falta de sentido poético – e burlesco – mantém o nome de Occupy Central ao movimento de estudantes – apoiado pelo resto da população). E, para quem quiser ir lendo o que se vai escrevendo, o twitter do China Beat vai colocando textos curiosos.

(Porque eu não duro sempre, informa-se que o edifício – lindo de morrer – que aparece ao longe na foto com triângulos iluminados, é o Bank of China e foi durante muitos anos o edifício mais alto de Hong Kong. E esta visão noturna do BoC é um must de HK para mim, que percorria sempre depois de jantar o passeio ao longo do Victoria Harbour no Tsim Sha Tsui – do lado oposto da foto, portanto – quando estava por lá.)

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Farmácia Central nos Cuidados Intensivos

John Kerry Secretary of State

Numa tentativa desesperada de, à 25ª hora, reanimar este querido blogue moribundo – ou, se já for tarde de mais para tal, pelo menos torná-lo num blogue zombie razoavelmente ativo – fiz um facelift ao layout do Farmácia, adicionei-lhe uma pitada de roxo (que faz sempre falta) e cá venho cumprir a minha obrigação de postar.

Podia (porque este blogue desde o início se rendeu – isto para dar a ideia, falsa, de que se debateu na tentativa de resistir a tal outcome – às futilidades), colocar aqui um texto, ao qual acrescentaria as minhas pertinentes observações, sobre sapatos e carteiras. Para dar um ar literato ao post lá referiria no meio aquela afirmação que Virginia Woolf faz no Mrs Dalloway (por interposta personagem) de que uma senhora se distingue pelos sapatos e pelas luvas. Eu até diria que pelos sapatos se distingue quase tudo sobre uma mulher. Quanto às luvas, estou com as minhas dúvidas. Eu própria já fui bastante adepta de luvas (se calhar porque dantes viajava com mais frequência para climas enregelados durante o inverno) e cheguei a ter uma coleção das ditas bastante fancy (da qual ainda usufruo a espaços em que tenho tal necessidade). Mas não estou inteiramente certa que me possam avaliar pelas minhas luvas. Não tenho nenhum par roxo, por exemplo (tenho um rosa forte, outro encarnado, outro laranja e os restantes são pretos). Sobretudo, notaria a ascensão das carteiras, desconsideradas no pós Grande Guerra e agora o clímax dos acessórios femininos.

Mas não. Escolho trazer-vos um texto sobre John Kerry, o inepto secretary of state de Obama, da Vogue de Outubro (que ainda não recebi no correio, mais uns dias e vou reclamar). Se está a torcer o nariz pela escolha da Vogue para temas políticos, fique a saber que ou é do Bloco de Esquerda ou um imperdoável ignorante (se o leitor me permitir o insulto), porque a Vogue é conhecida por peças magistrais sobre políticos seminais. Foi na Vogue, no ano passado, que Obama & wife se prestaram à mais magistral peça de propaganda dos últimos tempos no hemisfério norte, e há pouco tempo foi Rand Paul o objeto de tão glomouroso escrutínio – isto para ficarmos por dois exemplos, entre muitos.

Aqui vos deixo o perfeito democrata. Não precisam de agradecer as gargalhadas.

«Having come from the seventieth-anniversary commemorations of the Normandy invasion, Kerry, 70 himself and slender as the Tin Man, is dressed in a midnight-blue suit and a pink-orange tie, his dense, graying hair as immovable as ever. He glances toward the windswept Brittany coastline and then at the crowds trailing his convoy, eager to see an eminent American so intimately connected with their village give a speech about the war. […]

The summer will bring a cascading and surreal series of international crises, which keeps him constantly on the move. Rarely a day goes by without shocking and terrifying news: a fierce election dispute in Afghanistan that threatens to bring the country to civil war; the downing of a Malaysia Airlines jetliner in Ukraine; a deadly conflict between Israel and Hamas; the advance across Iraq of the jihadist group ISIS, on whom President Obama authorizes air strikes in mid-August.

During this jolting period Kerry will seem to be everywhere at once, engaging in negotiations, jousting with his foreign counterparts, and struggling to pull off small victories before jumping back on his plane.“I don’t think there has ever been a Secretary of State who has thrown himself into the job with as much verve and conviction as this guy has,” says Strobe Talbott, a deputy Secretary of State under President Clinton and now the president of the Washington think tank the Brookings Institution as well as a Kerry adviser. “If he can’t get a workable and acceptable compromise on a dispute, it’s very hard to imagine anybody who can.”»

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Crítica Cinéfila.

Depois de uns longos cinco meses sem Crítica Cinéfila com igual escassez de idas ao cinema (toda a gente sabe que nos últimos meses do ano os filmes que estreiam não ficarão certamente conhecidos pela sua qualidade), voltamos hoje, mais uma vez, com a nossa “famosa” Crítica.

E assim sendo o escolhido de ontem foi o 12 Anos Escravo (12 Years a Slave), 2013. Filme de Steve McQueen com Chiwetel Ejiofor, Dwight Henry, Kelsey Scott, Michael Fassbender e Brad Pitt entre outros.

http://www.imdb.com/title/tt2024544/?ref_=nv_sr_1

O filme retrata os anos de escravatura no Sul dos Estados Unidos e conta a história de um homem negro, pai de família (livre e abastado), que um dia é raptado e, na impossibilidade de provar a sua origem, é vendido como escravo e assim vive durante 12 anos. De referir ainda que o filme é baseado em factos verídicos…

Começo por dizer que provavelmente nunca tinha saído de uma sala de cinema tão “incomodado”… Toda a audiência saiu da sala literalmente em silêncio, com um fortíssimo nó no estômago!!! O filme é muito bom, certamente, e conta com (pelo menos) duas MAGNÍFICAS interpretações: Chiwetel Ejiofor (o “escravo”) e Michael Fassbender (o sádico/psicopata dono do “escravo”). Fassbender tem uma interpretação assombrosa, as feições dele transfiguram-se de maldade e sadismo nas cenas mais violentas.

Mas como não há bela sem senão também tenho uma crítica negativa: Na minha opinião o filme é “demasiado comercial”, ou seja, é daqueles filmes que são feitos literalmente para ganhar Óscares (e vai ganhá-los com certeza!!!). Toda a gente sabe que sexo + violência + temática polémica/sensível = Óscares!!! E se a esta “receita” juntarmos algum nome sonante (neste caso claramente Brad Pitt) então não há mesmo que enganar, venham os Óscares… Para além disso, sem qualquer sombra de dúvida, as cenas de violência são demasiado longas e demasiado explícitas, claramente excessivas!!!

Posto isto continua a ser um filme a não perder, pelo menos para os menos impressionáveis. Quanto aos outros aconselho alguma “mentalização prévia”… Mas vamos ter Óscares com certeza!!!

…When everything is lost, there is nothing else to lose. Uma citação que pode resumir todo o filme…

Bom filme!!!

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Merry Christmas aos fregueses da farmácia

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Da violência

Ainda há sítios onde uma polícia abate, pela primeira vez, um homem. Vivemos num mundo colérico, mas são estes exemplos que mostram que a criminalidade violenta não faz parte obrigatoriamente da comunidade, seja ela qual for, país, localidade ou mesmo família. Até mesmo no interior de cada um de nós. 

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Retalhos de um fim de semana no médio Tejo

Constância e Tomar, mais concretamente. Das belezas naturais e locais a vistar há muito por aí espalhado. Interessam-me mais os detalhes:

  1. Ficar. Quinta de S. Bárbara em Constância. Um turismo rural muito aprazível, quarto espaçoso e confortável, pequeno-almoço talvez de variedade escassa. O preço do Booking foi o preço de tabela.
  2. Comer. Sem pesquisa anterior a sorte protegeu-me: em Constância o D. José Pinhão e o Remédio D’Alma, em Tomar a Casa Matreno. Todos com um toque especial e boa cozinha, os dois primeiros com preços na ordem dos 20,00 € por pessoa, o último por este valor comem dois.
  3. Experimentar. Fatias de Cá, conhecem? Eu não tinha ainda visto nada deles, e agora faço questão de os voltar a ver noutros sítios. Esta encenação de “O Nome da Rosa” no Convento de Cristo, à noite, vale mesmo muito a pena.

Fotos não há que a câmara do meu Blackberry é manhosa.

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É fechar!

Airport director Pedro Neves told EUobserver that 90 flights are expected to come in and out of Beja in 2013 – equivalent to just under two per week. […] For the moment, however, it offers a runway to nowhere.

(Inicialmente encontrado aqui)

E agora a asoociação fácil, fácil:

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Giuseppe Verdi nasceu há 200 anos…

titula o JN hoje. Venha daí o nosso abraço. E ao Pavarotti também.

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Personagens inesquecíveis (II)

Rick Deckhard

Harrison Ford

Deckard: Have you felt yourself to be exploited in any way?

Zhora: Like what?

Deckard: Well… well, like to get this job. I mean, did… did you do, or… or were you asked to do anything lewd… or unsavory, or… or, otherwise repulsive to your… your person, huh?

Zhora: [laughs] Are you for real?

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A suprema razão

Muitas vezes me tenho posto a pensar na(s) razão(ões) das vitórias sucessivas do F.C. Porto no campeonato português. Na sua coluna hoje no jornal A Bola Miguel Sousa Tavares dá um sinal que tenho também interiorizado: habitualmente, qualquer equipa do meio da tabela (com a honrosa exceção a espaços do Benfica) jogam sempre para não perder quando o adversário é o FCP, colocando dez jogadores atrás da linha do meio campo e um desgraçado qualquer à frente esperando um assomo de sorte. Claro que esta tática levará, habitualmente também, a perderem o jogo e depois lá vêm as acusações aos árbitros, o sistema, a fruta, as escutas. Nunca se houve mesmo é que durante 90′ jogam não para ganhar, mas para não perder.

Talvez seja esta a suprema razão.

Mas hoje espera-nos um Atlético de Madrid que não vai jogar desta maneira com toda a certeza. Esta noite os adeptos portistas têm o primeiro teste verdadeiro desta época.

Força Porto!

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Ora então vamos lá…

O Dr. Carreiras tem menos de 50% do votos expressos (28.004 a contrastar com o total de 31.594 noutras listas):

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O Dr. Carreiras tem maioria absoluta na Câmara Municipal de Cascais (6 mandatos, os outros todos juntos 5).

É a democracia, dizem uns… É o método de Hondt, dizem outros…

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Personagens inesquecíveis (I)

Leonard “Gomer Pyle” Lawrence

Vincent D’Onofrio

Gunnery Sergeant Hartman: Private Pyle I’m gonna give you three seconds; exactly three-fucking-seconds to wipe that stupid looking grin off your face or I will gouge out your eyeballs and skull-fuck you! ONE! TWO! THREE!

Private Gomer Pyle: Sir, I can’t help it, sir.

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Maninha

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Nem guerra entre os povos, nem paz entre classes!

Assim é o mote do 31 da Armada. Entretanto, neste post, o lápis azul do RMD entrou em ação. Pelo menos um comentário foi apagado (a página indica 5 comentários, aparecem apenas 4). Enconaçou-se.

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E continua a cortar…

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Esta série é muito boa, e este tipo é muito bom

 

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Em defesa do Colégio Militar

 Fui aluno do Colégio Militar. Durante oito anos – os melhores da minha vida – vivi dentro daquelas paredes. Quem entra no meu escritório só vê pendurada a minha carta de curso, e à laia de decoração no mesmo espaço a minha barretina, penacho e luvas brancas, porque muitíssimo daquilo que sou todos os dias foi naquela casa que aprendi. E todos esses dias me lembro do tempo que lá passei.

Porque somos muitas vezes confrontados pelos senhores do spin a mando do Ministério da Defesa Nacional com tudo menos informação, vale sempre a pena conhecer as razões da nossa luta. Estão aqui.

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